domingo, 7 de junho de 2009

O espetáculo da notícia

Ao longo da história, a comunicação sofreu diversas mudanças. Entre elas, houve o surgimento do Jornalismo de revelação, que se preocupa principalmente com escândalos e em expor a vida privada de indivíduos.

Atualmente, os produtos da mídia se tornaram mercadorias. Na busca pela audiência, a ética e a moral acabam esquecidas. Sendo assim, vale sensacionalismo, notícias mal apuradas, fofocas, etc. É uma vulgarização e manipulação do que é noticiado, com o único objetivo de conquistar a maior quantidade de espectadores.

A notícia foi transformada em instrumento competitivo de emissoras e jornais. Essa concorrência acaba prejudicando a formação de uma opinião pública e sensata. Os jornalistas e os jornais estão, cada vez mais, trabalhando com a idéia de que “o que é bom é aquilo que o público gosta”.

Portanto, muitas vezes manipulam fatos para tornar a matéria mais atraente para uma população, que por sua vez está mais preocupada em apenas consumir e não em se informar. O povo gosta de sensacionalismo e de informações exageradas. No entanto, esse formato de informação, sem uma apuração adequada, possivelmente acaba implicando em um final trágico. Um exemplo desse tipo de situação, foi o caso dos diretores de uma escola em São Paulo, que foram acusados de molestar seus alunos. O casal sofreu as conseqüências e foi preso. No entanto, quando houve uma investigação correta, foi comprovado que as acusações eram falsas. Contudo, não importa o que se fizesse agora, os diretores já tinham danos permanentes em suas vidas.

No livro "A Tirania da Comunicação", Ignacio Ramonet comenta sobre o caso Princesa Diana e o caso Clinton-Lewinsky, “exemplos de supermidiatização que nem sempre significa boa informação”.

No caso Bill Clinton, a imprensa americana exagerou no volume, na banalidade e na grosseria com que tratou o assunto. Houve uma cobertura competitiva, com excesso de fofocas e um “jornalismo investigativo” sem fatos nem fontes.
Com relação à princesa Diana, o caso foi mais sério. Como conseqüência da negligência dos paparazzi, Lady Di e seu namorado, Dodi al-Fayed, morreram em um acidente de automóvel. Fotógrafos perseguiram Diana e seu affair, resultando na colisão do carro em que estavam. O mundo parou para assistir o funeral da “Princesa do Povo”.

Essa questão da imprensa manipular informações e tratar a notícia como um espetáculo é muito bem retratada no clássico do cinema americano, "A montanha dos sete abutres", que é uma lição de jornalismo e mostra como a mídia se comporta. O filme, dirigido por Billy Wilder, trata de um jornalista inescrupuloso que faz de tudo por uma notícia de grande repercussão, mesmo que falsa. Em uma de suas falas o protagonista comenta: “Eu posso cuidar de grandes notícias e pequenas notícias, e se não houver eu saio e mordo um cachorro”. Apesar de antigo, o filme mostra o que ocorre atualmente, jornalistas que não estão preocupados com a notícia, mas sim com a autopromoção.

Percebe-se, então, que a imprensa tem a necessidade da notícia de impacto, que venda, independente da verdade.

Ana Carolina Marcelino

Entrevista com Marcos Melo

Entrevistamos na última sexta-feira o professor Marcos Melo, 49 anos, formado em Ciências Sociais pela PUC São Paulo, com especialização em Globalização e Cultura. Durante a conversa, foram discutidos vários fatos sobre a ditadura e censura no período militar, enfatizando os movimentos a favor da democratização do país.

Um assunto muito pertinente aos jornalistas foi a posição da grande imprensa no período, a qual teve uma dupla-opinião. No começo apoiando o golpe que, de acordo com a capa do jornal O Estado de São Paulo: "Os democratas dominam a nação", mostrou um apoio à ditadura. Posteriormente, com o aumento da repressão, essa postura mudou, trazendo críticas ao governo da época. Como as margens amarelas no jornal A Folha de São Paulo durante as campanhas para as Diretas Já.

Questionamos como a esquerda tentava acabar com a ditadura e sua luta contra os abusos. "O partido comunista não se envolveu na luta armada, os que não concordavam formavam as guerrilhas", afirmou Marcos. O professor disse ainda que os esquerdistas mais brandos lutavam dentro da legalidade, se candidatando a cargos como vereador e deputado, e achavam que a luta armada dava mais motivos para continuar com a repressão.

O entrevistado relatou fatos que ocorreram dentro de sua própria família: "Tenho algumas pessoas na minha família que foram atuantes. Não chegaram a luta armada, mas foram obrigados a sair do Estado de origem, porque corriam o risco de serem presos." Ele comentou que desde cedo convivia com a tensão de ser preso e que sempre soube mais, do que seus colegas, sobre o que realmente acontecia.

Durante a ditadura houve também uma censura moral, ela não queria passar para a sociedade que estava só reprimindo, mas sim que veio para moralizar. Dessa forma atingiu bastante as famílias mais conservadoras, pois censurava várias músicas, hoje consideradas bregas. O episódio mais famoso foi a música "Pare de tomar a pílula" do Odair José, porque nesse período estava ocorrendo a campanha de controle de natalidade e por isso foi censurada.


Isabela Gregório e Deborah Scarone.

Cultura sim, censura nunca mais


O Brasil vivenciou um período de Ditadura Militar entre 1964 e 1985. Essa época teve como característica principal a ausência de democracia, suspensão de direitos constitucionais, censura e perseguição política.

Quando houve o golpe militar, o país tinha os movimentos políticos mais organizados da sua história. Sindicados, movimentos estudantis, todos estavam engajados em entidades como a UNE (União Nacional dos Estudantes) e o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), que tinham grande representatividade na política da nação. Entretanto, com o regime militar, essas entidades foram asfixiadas. No dia 13 de dezembro de 1968, o presidente Costa e Silva, assina o Ato Institucional n°5, o AI-5. O que até então era uma ditadura mascarada, passa a ser uma ditadura escancarada. Daquela data até 1979, quando é assinada a anistia, o Brasil passa por um período nebuloso, e no âmbito cultural não foi diferente.

Ali a violência se impôs através da censura.
Reprimidos, os estudantes, os músicos e a esquerda em geral, passaram a utilizar a música como principal modo de se expressar. Nas letras havia um questionamento da situação pela qual o Brasil estava passando. Com a ousadia de falar o que não era permitido à nação, a Música Popular Brasileira começa a atingir as grandes massas. Para podar essa arte e acabar com a liberdade de expressão da sociedade, foi criada a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP). Sendo assim, com o objetivo de driblar a censura, os artistas utilizavam metáforas em suas músicas. Porém, mesmo com esse recurso, ainda corriam o risco de serem censurados, exilados e até torturados.

Geraldo Vandré foi um dos primeiros artistas perseguidos pela ditadura militar. Em setembro de 1968 o compositor participou do Terceiro Festival Internacional da canção, com a música “Pra não dizer que não falei de flores”, considerada hino de contestação de jovens brasileiros. A música foi proibida de ser veiculada, e Vandré foi exilado de 1969 a 1973.

Chico Buarque também foi um grande alvo do regime militar. Censurado inúmeras vezes, Chico deixava claro o seu descontentamento perante a situação que o Brasil se encontrava. Quando voltou do exílio compôs a música "Apesar de você". A canção foi aprovada e gravada. No entanto, após o sucesso, a música foi vetada por conter duplo sentido. O que aparentemente não passava do relato de uma briga de um casal, era na realidade uma referência ao presidente Médici, que estava no poder. "Cálice" foi outra canção do compositor com grande repercussão, sendo proibida de ser gravada ou se quer cantada.
A censura não era um artifício usado apenas para combater músicas de protesto. Ela podava tudo o que era possível, barrava qualquer obra que pudesse ameaçar a moral da sociedade conservadora, que era a favor do regime. Músicas bregas, popularescas, como o sucesso "Pare de Tomar a Pílula", ou que continham palavras que não agradavam o regime, também eram censuradas.

Outro movimento musical reprimido pela ditadura militar foi o Tropicalismo, também conhecido como Tropicália. Na realidade, o movimento tropicalista não teve como principal objetivo o combate à ditadura militar. Os tropicalistas acreditavam que a inovação musical em si, já era uma forma revolucionária. A participação deles na cultura foi mais crítica do que política. Exatamente por isso, os estudantes engajados e aqueles que defendiam músicas de protesto, não apoiaram o movimento. Utilizando guitarras elétricas em suas músicas, também eram criticados por músicos mais tradicionais e nacionalistas que alegavam que essa influência da cultura pop-rock americana prejudicaria a música brasileira. Em 1984, políticos de esquerda, artistas e milhões de brasileiros fizeram parte das Diretas Já!, movimento que era a favor das eleições diretas para presidente.

Fazendo parte da Aliança Democrática, o deputado Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral, em 1985, o novo Presidente da República. Acabara ai o regime militar. No entanto, Tancredo ficou doente e faleceu. Consequentemente quem assumiu o poder foi o vice-presidente José Sarney e em 1988 foi aprovada uma nova constituição, que estabeleceu princípios democráticos no país. Foi o fim de uma época obscura em que a liberdade de expressão e organização era praticamente inexistente.



Ana Carolina Marcelino

O progresso dos Blogs

No mundo virtual existem vários sites e formas de se relacionar, um exemplo disso são os blogs. O desafio de postar diários pessoais na rede, entre o início e o final da década de 1990, fez parte do que a americana Chris Sherman, editora assistente do Search Engine Watch (http://www.searchenginewatch.com) chamou de “primeira onda da web escriturável'”. Segundo ela, este período esteve limitado pela oferta de ferramentas que facilitasse a postagem de diários on-line na rede.

Já a Segunda Era dos blogs veio com a criação de ferramentas especializadas, por empresas como a Pitas (www.pitas.com) que criou o primeiro software grátis e depois o americano Evan Williams, e a empresa Pyra Labs criou ferramenta semelhante, o Blogger (www.blogger.com). A principal diferença foi na velocidade da criação, postagem e atualização dos ciberdiários. Dessa forma qualquer pessoa que dominasse o inglês básico poderia entender a forma como os blogs funcionavam.

Apesar de a maioria dos blogs serem utilizados como diários, eles também possuem diferentes e múltiplas faces, onde misturam página pessoal, fórum, links, comentários e pensamentos pessoais, ensaios ou lugar onde se escreve de tudo ou sobre nada.

Segundo informações do Blogger, hoje os blogs já passam de 800 mil em todo o mundo. No Brasil eles ganharam mais força no ano de 2000. Com esse aumento no número de usuários, a ligação entre os blogueiros se tornou mais ampla, formando assim várias comunidades bloggers.

Entre os primeiros divulgadores está o analista de sistemas de Brasília, Marcus Amorim, que criou em março de 2000, o blog www.zamorim.eti.br quando, segundo ele, ainda não existiam ciberdiários em português. O weblog traz comentários sobre temas variados como política, curiosidades científicas, informática e entretenimento.

Os blogs são meios utilizados para mostrar a opinião das pessoas de uma forma mais pessoal, e possui uma capacidade de interligar as opiniões dos blogueiros. Não há mais a necessidade de ser um especialista na construção de páginas na internet. Hoje os processos são simples e rápidos podendo ser realizados de qualquer computador ligado à rede da internet.

Assim, um veículo que inicialmente era composto por textos e fotos de temas livres, atualmente ele serve como meio divulgador de trabalhos dos internautas, como blogs satíricos, de fotógrafos, escritores, críticos e até mesmo jornalísticos, que possibilita o profissional ter mais liberdade em se expressar e fazer parte do mercado alternativo.

Nídia Bomtempo e Patrícia Alves



Experiências da turma com os blogs: vantagens e limitações


domingo, 24 de maio de 2009

Portugal: da Literatura ao Jornalismo

A revolução liberal de 1820 em Portugal ressuscitou a publicação de discussões ideológicas e partidárias, por meio de artigos. Finalmente, Portugal conquistou sua primeira lei de imprensa, atrasada 42 anos em relação à França, o que colaborou com o desenvolvimento da imprensa periódica e no aumento da quantidade e qualidade dos jornais.

A liberdade de escrever e publicar estimulou o jornalismo de argumentação, como Almeida Garrett, que teve seu nome ligado a várias publicações. Por diversas vezes exilado, tanto na França como na Inglaterra, por ter sido militante da revolução liberal, tratava em seus textos de política e intervenção. Atuou nos jornais O Português (1826), O Chaveco Liberal (1827), O Precursor (1831), O Português Constitucional (1836).

Com a vitória liberal, Garrett torna-se um dos intelectuais do regime, ao lado de Alexandre Herculano. Político, poeta, jornalista, romancista, historiador e agricultor, Herculano foi diretor e redator da revista O Panorama, fundada em 1837. Tal periódico literário estava ao lado das melhores revistas da Europa, tanto no aspecto gráfico como literário, porque, com a aparência da análise literária, tratavam disfarçadamente as questões sociais e políticas.

António Feliciano de Castilho, assim como Herculano, fundou um periódico literário, Revista Universal Lisbonense, criada em 1841, sendo um dos diretores e principal redator do veículo. Antero de Quental, vítima das críticas de Castilho pelo conservadorismo, é “um símbolo da geração de 1870 e um marco na poesia, no ensaio filosófico e literário, no jornalismo e nas lutas pela liberdade de pensamento e pela justiça social”.

Seduzido pelo jornalismo, Quental aceitou o cargo para ser um dos diretores do República – Jornal da Democracia Portuguesa. “A paixão pelo jornalismo também o levou à publicação anônima de um panfleto” com o objetivo de arrecadar fundos para a “formação de um novo jornal, O Pensamento Social, o qual mais tarde dirigiu em parceria com Oliveira Martins”.

Quanto a Eça de Queirós, este merece um texto exclusivo. “Deixou páginas admiráveis de jornalismo ou sobre jornalismo dispersas por diversas e inúmeras publicações, cujo inventário é bastante longo”. Eça estréia sua atividade jornalística no dia 23 de março de 1866 na Gazeta de Portugal, passa pela direção e redação de um jornal bissemanário, O Distrito de Évora e também colabora com a Gazeta de Notícias, jornal do Rio de Janeiro, de janeiro de 1892 até novembro de 1897.

A contribuição de Eça aos jornais foi diversa: artigos, crônicas e também folhetins, partes de sua produção de ficção primeiro publicada em jornais, como acontece com O Crime do Padre Amaro (1875), com A Relíquia (1887) e com A Correspondência de Fradique Mendes (1888).

Thaís Carapiá

Referências:
Chaparro, Manuel Carlos, Sotaques d’aquém e d’além mar: percursos e géneros do jornalismo português e brasileiro (2000), Santarém : Jortejo, 2000, pp. 29-44.
http://escritas.paginas.sapo.pt/almeida_garrett.htm
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/RUL/RUL.pdf
http://ac2m.blogs.sapo.pt/tag/antero+de+quental
http://www.citi.pt/cultura/literatura/romance/eca_queiroz/jornalismo.html

terça-feira, 28 de abril de 2009

E o diploma?

Meu pai foi quem me levou a pensar mais nesse assunto, muito antes de decidir que estudar jornalismo era o que eu realmente queria. Ele passava horas me dizendo que qualquer um podia ser jornalista. Bastava saber escrever que o resto estava feito!
Tenho que admitir que essa opinião me enlouquecia, cheguei a cogitar uma carreira de advogada como a melhor saída. Mas analisei o que eu queria mesmo, e tudo que eu via era um bloquinho de papel, canetas e uma Canon profissional. Acabei pulando para o mundo da imprensa e aqui estou no primeiro semestre dessa jornada.
O ponto é que logo de início corri atrás de informações que me dissessem o quanto o diploma era necessário, tanto para sentir que havia tomado a decisão certa, quanto para mostrar ao meu pai que a minha escolha não era tão desprezível. Acabei me deparando com a chance de entrevistar o Fred e vários pontos começaram a surgir na minha mente.
Analisei que ser jornalista é para poucos. Não basta saber fazer uma redação, é necessário ter um compromisso com a sociedade, vontade de transmitir o interesse público com a pura verdade, ter fôlego para rotina desgastante, agüentar os maus salários e amar aquilo que faz. Então com certeza, não é qualquer um que pode fazer o que eu escolhi para o resto da vida!
O prefácio do Noblat tem uma citação do Gabriel García Márquez que diz: “Pois o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e torná-lo humano por sua confrontação descarnada com a realidade. Ninguém que não a tenha sofrido pode imaginar essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida. Ninguém que não a tenha vivido pode conceber, sequer, o que é essa palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo das primícias, a demolição moral do fracasso. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderá persistir num ofício tão incompreensível e voraz, cuja obra se acaba depois de cada notícia como se fora para sempre, mas que não permite um instante de paz enquanto não recomeça com mais ardor do que nunca no minuto seguinte.”
Acredito que o jornalismo passa então a ser uma das carreiras mais complicadas, porque temos uma tarefa crucial, que é o compromisso com o todo. Temos em mãos um poder que pode informar com dignidade ou difamar com vergonha. É preciso caráter, dedicação e veracidade. É preciso FORMAÇÃO, o que agora é evidente para mim.

Isabela Gregório

domingo, 26 de abril de 2009

Entrevista com Fred Ghedini

Fred Ghedini, jornalista há pouco mais de 30 anos e formado pela ECA-USP, foi presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo por duas gestões, de 2000 a 2006. Hoje é tesoureiro da Apijor, e editor do Portal do Autor, comunidade de jornalistas conscientes de seus direitos autorais.

Retrô: Gostaríamos que esclarecesse sobre a possível extinção da Lei de Imprensa. Sabemos que a Lei em vigor nos dias de hoje foi instaurada no ano de 1967, tendo 20 dos 77 artigos derrubados em 2001. É natural que, como estudantes de jornalismo e futuros praticantes da profissão, tenhamos receios do que pode ser alterado.

Fred:
Quais os receios de vocês?

Retrô: O direito de resposta pode talvez tirar o jornalista a sua função de informar a sociedade. Dar a pessoas não formadas o direito da escrita em veículos de informação pode acarretar em uma perda da essência do jornalista.

Fred: É importante frisar que o direito de resposta está na Constituição Brasileira, no artigo 5º, da Liberdade de Garantia Individuais e Fundamentais. Sendo esse um direito para a parte ofendida, nada tem a ver com a regulamentação da profissão, que fixa a exigência da formação específica em jornalismo. São leis distintas, ambas da época da Ditadura, mas com sentidos opostos.
Digo isso porque a Lei de Imprensa tem artigos que nitidamente censuravam a imprensa e o trabalho jornalístico, principalmente naquilo que os militares entendiam como sendo a ameaça à Segurança Nacional. Então, como era um regime ditatorial militar, os jornais podiam ser submetidos à censura – como foram –, e costumavam, no lugar de matérias censuradas, publicar receitas de bolo, poemas de Camões, para indicar que aquele artigo havia sido censurado. Os jornais chamados alternativos chegavam a ser integralmente vetados.
Havia uma censura naquela época baseada na Lei 5.250, a Lei de Imprensa, e os artigos eram relacionados à chamada Segurança Nacional. Portanto, tudo aquilo que dizia respeito ao Governo, podia ser interpretado como atentado a Segurança Nacional; esse é o aspecto essencialmente ditatorial e sem sódio da Lei de Imprensa.
No entanto, ela tem artigos que defendem a parte ofendida naquilo que diz respeito ao direito de resposta. No código civil, o direito de resposta não está configurado como tramitação rápida e imediata, como a lei específica da Lei de Imprensa. Essa é uma das questões que faz com que os jornalistas brasileiros defendam uma Lei de Imprensa específica porque o direito de resposta tem que ter um trâmite rápido. Se uma parte ofendida em um artigo, com acusação de algo não verdadeiro, não pode esperar o decorrer normal da justiça, que pode levar meses ou anos, para que a resposta seja publicada; a ofensa a essa altura já seria consolidada na mente das pessoas que tiveram contato com a informação.
Por essa razão, acredito que o direito de resposta deva possuir-se de tramitação acelerada, para que em poucos dias depois, ou no dia seguinte, a parte ofendida possa justificar-se e a informação não verdadeira não seja fixada, valendo como verdadeira. Esse é, essencialmente, o problema do direito de resposta, e por isso achamos que tem que haver regulamentação para isso, ou a sentença cabe a cada juiz e o direito de resposta não existirá.

Retrô: E o que tem a nos dizer sobre aqueles que exercem a profissão, sem formação de jornalista?

Fred:
Temos atualmente mais de 13.000 registros precários de jornalistas, da época em que valeu a decisão da juíza Carla Rister, onde decretou que a formação do jornalista não era mais necessária. Esse processo resultou, então, em um julgamento que começou no Supremo Tribunal Federal no dia 1º de abril desse ano, e a continuação aconteceu dia 22 abril.
Em 2001, essa decisão permitiu que os interessados pudessem ir a Delegacias Regionais do Trabalho e tirar um registro precário e provisório.

Retrô: E você era presidente do Sindicato nessa época?

Fred:
Sim. Inclusive foi o Sindicato, juntamente à Fenaj, que entrou com recursos contra essa decisão. Essa luta continua. No site das duas instituições podem ser observadas manifestações e também existe campanha nacional em defesa da exigência da formação específica.

Retrô: Você acredita que esses jornalistas de formação precária podem trazer irregularidades aos veículos, já que não tem orientação nem formação da profissão?

Fred: Eventualmente. Podem escrever inverdades e aí entra a importância do direito de resposta. O direito de resposta não fere o trabalho jornalístico, muito pelo contrario. Se observarmos o projeto da nova Lei de Imprensa, é estabelecido claramente a obrigatoriedade do jornalista de cobrir o contraditório, nas suas várias manifestações. Isso tem a ver com a liberdade de expressão de toda a população e qualquer cidadão porque se não se cobre o contraditório, a parte prejudicada tem sua liberdade de expressão podada. Na verdade a exigência de um jornalismo bem feito e da aplicação do código de ética ou até de uma Lei de Imprensa específica razoável e bem feita, vai delimitar claramente aquilo que é obrigação do jornalista: cobrir o contraditório e todas as posições sobre determinados assuntos de interesse público possam se manifestar, e dessa forma se garante a liberdade de expressão. De outra forma, a liberdade de expressão também se manifesta nas páginas de opinião, nas cartas e nas matérias em que pessoas são entrevistadas. É uma impossibilidade física acreditarmos no absurdo de que todos teriam seu espaço para escrever nos jornais.
Necessariamente tem que haver uma organização da manifestação dos assuntos públicos de importância, como acontece nos meios de comunicação. É preciso que haja um espaço onde os assuntos públicos se organizem. O dia em que todos tiverem seu meio de comunicação, não há comunicação pública organizada - todos estarão cobrindo a todos simultaneamente, consultando todos os blogs brasileiros, como os assuntos públicos são tratados em algum espaço, pode ser considerado uma "praça pública midiática", digamos assim.

Retrô: A Revista Imprensa publicou recentemente uma reportagem com o título “Blogueiro não é jornalista”

Fred: Evidentemente, o blogueiro que escreve sobre receitas de bolo não é jornalista. Para ser jornalismo, o assunto tem que ser de interesse público, ter atualidade e informação checada. Sem essas características, claramente os milhões de blogueiros da atualidade não são jornalistas. A manifestação do pensamento e a liberdade de expressão diferem dessas características. Essa confusão interessa particularmente a algumas empresas proprietárias de veículos, porque com isso desorganizam a produção do conteúdo jornalístico e tornam mais permeável a manifestação dos interesses da empresa dentro desse material. O blogueiro tem seu direito de expressar, enquanto o jornalista tem a obrigação de informar com veracidade.

Retrô: Existem milhares de jornalistas praticantes que não tem o diploma. Afinal, qual a importância da formação em jornalismo?

Fred: Acho a formação fundamental para que saibam e conheçam o que é de fato o jornalismo. O jornalismo, no meu entender, existe para satisfazer o direito do cidadão à informação. Para exercer esse papel importante, é necessária uma preparação. Digo para vocês que este não é um aprendizado simples, como por exemplo a prática de checar informações. Essa prática não está em todos os blogueiros. Precisa-se aplicar algumas rotinas de checagem antes de publicar; a tendência da Internet é de justamente seguir o caminho contrário. Mas, para que o jornalismo torne-se crível, as pessoas que têm acesso e usufruem daquele material têm que ter a certeza de que aquilo foi cuidadosamente checado, verificado e devidamente concluído. O Twitter, que veio com força nos últimos tempos, trazendo a prática do mini-blogging, não tem credibilidade como outros veículos. O Twitter não é uma mídia jornalística, é uma mídia para qualquer pessoa. Mídias jornalísticas são aqueles espaços em que você pode confiar na informação, e podemos observar que as novas mídias e novas variações estão ressaltando a necessidade de ter informação com credibilidade. E cada vez mais, isso vai tornar-se importante.
Pode ocorrer de o jornalismo ser vítima dessa infidelidade aos fatos e às opiniões, se não souber, no momento em que vivemos de quebra de paradigmas, como firmar sua marca de credibilidade. No momento, a necessidade da informação torna-se muito mais evidente, e cabe aos jornalistas divulgarem isso e mostrarem as suas necessidades e a que vieram. Acredito que o jornalismo, se mantiver seus princípios básicos, conseguirá sobreviver e se mostrar necessário como espaço público, onde pelo menos uma parcela considerável das pessoas possa acreditar.
Há uma democratização dos acessos a informação e do direito a expressão – a Internet manifesta isso -, há também a necessidade de reorganização dos espaços onde se concentra a grande massa de informação.

Retrô: Você acredita que o jornalismo pode perder importância, com essa grande massa de informação e, com a Internet, uma grande massa de veículos disposta a armazená-los?

Fred: Acredito que o jornalismo será cada vez mais necessário. Como há uma multiplicação na quantidade de informação, basta saber se haverão profissionais e veículos suficientemente capazes e orientados para analisar e publicar cada noticia. No Brasil, diferente dos EUA, os veículos impressos ainda têm resistência.

Retrô: Atualmente temos a necessidade da rapidez da informação. Com essa exigência, você não acha que possa haver jornalistas que não checarão a informação?

Fred: Essa é uma tensão permanente. Não pode deixar de checar a informação. Esse é o divisor de águas. Os veículos jornalísticos têm que checar informação. É perigoso fazer afirmações sem que saibamos investigar todos os lados da história. O jornalismo de hoje é muito baseado em fontes oficiais, sem que haja checagem do restante dos fatos e fontes.

Retrô: E qual sua posição sobre a relação entre jornalismo e publicidade?

Fred: Esse é um ponto que ninguém discute. É difícil discutir o financiamento do jornalismo. Mas digo que estou cada vez mais convencido de que o jornalismo deve ser financiado por dinheiro público. Podem me chamar de louco, mas acredito que só assim o jornalismo terá caráter de serviço público, consolidando-se dessa maneira. A Suécia há poucos anos teve investimento do Governo a alguns veículos, para que estes não fossem fechados; o atual presidente da França, Sarkozy, reforçou o caixa das empresas jornalísticas.
Os jornais são de fato financiados pelo público, mas a finalização é privada. Sendo o jornalismo financiado pela publicidade, então a liberdade de imprensa torna-se liberdade de empresa, com limites ainda mais estreitos.

Retrô: Qual a sua posição com relação à nova Lei de Imprensa?

Fred: Nós somos a favor de uma nova Lei de Imprensa, pois o Código Civil e o Código Penal simplesmente não regulam esse direito. Somos a favor de uma formação específica, da exigência dessa formação para exercício da profissão. Somos a favor da Lei de Imprensa que garanta a autonomia de trabalho para o jornalista.


(Andrea Dominguez e Isabela Gregório)

domingo, 19 de abril de 2009

Fala Povo

A entrevista que você vai assistir abaixo é uma espécie de enquete, porém com mais detalhes nas respostas dos entrevistados.

FALA POVO é um vídeo próprio do Blog RetrôVisor. Ele expõe os meios de informação que os entrevistados mais usam para se informar e questiona qual o motivo do jovem pela não procura da atualização por meio de notícias e pesquisas.

Raquel Tenuta e Thaís Carapiá


http://www.youtube.com/watch?v=XPnLumIE5RM&feature=channel_page


O vídeo "Incentivo à leitura Universitária" é uma propaganda que mostra o quanto se gasta usando um aparelho eletrônico e o quanto se ganha ao ler livros para aumentar a bagagem intelectual e cultural.


http://www.youtube.com/watch?v=LSqHxxKqUNs

O vídeo "A internet emburrece" exibe a discussão feita entre o professor Juarez Dayrell, coordenador do Projeto Observatório da Juventude, da UFMG, e a professora de cibercultura da PUC Minas, Daniela Serra.





A ERA DO CONHECIMENTO CHEGOU!

Embora de forma tardia, o jornalismo chegou ao Brasil efetivamente em 1808. No início, era apenas impresso e tinha diagramação semelhante aos livros da época. Além de ser uma fonte de conhecimento e de caráter noticioso, despertou na sociedade o desejo de liberdade de opinião.

A pequena parcela da população que possuía acesso à leitura dispunha de apenas dois jornais: Correio Braziliense e Gazeta do Rio de Janeiro. Esses veículos foram essenciais no desenvolvimento dos difusores de informação no país. Graças a eles, o povo brasileiro começou a enfrentar as imposições absolutistas e passou a expressar os próprios anseios. Com o passar dos anos, o jornalismo tomou seu próprio formato e outros tipos de publicações surgiram.

Acompanhando o desenvolvimento do Brasil, não só economicamente, mas também culturalmente, percebe-se o quanto a informação foi essencial para que as pessoas desenvolvessem o senso crítico e pudessem tomar atitudes que mudariam o cenário político do país. Os jovens estudantes tiveram uma voz ativa nesse avanço.

Um exemplo foi o que ocorreu durante a Ditadura Militar. Os universitários não aceitavam viver em uma sociedade onde não pudessem ter liberdade de estudo e de expressão. O desejo pela informação pura e verdadeira gerou o chamado Movimento Estudantil, que colocou centenas de jovens nas ruas. Tais movimentos e greves geraram a criação de um novo grupo, que surgiu por meio da união de artistas, intelectuais, militantes em prol do fim da repressão.

Passaram-se mais de 40 anos e mesmo com a evolução tecnológica, liberdade de imprensa, internet, livros e televisão, o desejo pelo jovem de transformar a política decaiu, bem como a busca pela informação. Poucos se deram conta, mas a evolução da sociedade traz a necessidade de aprofundamento nas questões que dinamizam o nosso mundo. Hoje, em plena era do conhecimento, para que o jovem seja bem sucedido profissionalmente e tenha um poder de realização maior nas questões sociais e políticas, há uma série de cobranças feitas pelo mercado de trabalho, que vão além do que é ensinado em sala de aula.

Sabe-se que uma pequena parte da população brasileira tem a oportunidade de cursar o ensino superior. A falta de interesse por parte desse pequeno grupo preocupa a muitos. Tal afirmação nos leva a um questionamento: será que os universitários estão se preparando o suficiente para assumir responsabilidades futuras?

Diferente da Ditadura Militar, os estudantes de hoje não têm mais a necessidade de buscar formas alternativas para obter informações. Atualmente, a sociedade dispõe de uma diversidade de meios de comunicação que podem deixá-los cientes de tudo o que ocorre ao redor do mundo. Mesmo sem poder financeiro, os universitários podem recorrer a bibliotecas, sebos e lan houses.

Um fato que chama a atenção de pedagogos e especialistas é que, mesmo com essa gama de opções, o índice de leitura entre universitários é baixo. Apesar da internet ser uma fonte inesgotável de informações, os sites de relacionamento vem ocupando o tempo que poderia ser dedicado aos estudos.

Uma pesquisa realizada pelo Centro de Integração Empresa-Escola, CIEE, mostra que entre os estudantes do ensino superior, apenas 9% leem jornais. Dos 1.104 universitários entrevistados, 66% procuram ler apenas os livros requeridos pela faculdade, 16% esporadicamente dedicam-se à leitura e os demais declararam a falta de interesse pelos impressos.

A busca pelo real motivo desse mal traz uma infinidade de justificativas. Alguns alegam que não se dedicam aos estudos por falta de tempo, outros afirmam que a internet está tomando o espaço dos livros, das revistas e dos jornais. Uma parte dos universitários prefere acreditar que os meios de comunicações são os principais responsáveis, pois estimulam mais o lado consumista do que a questão cultural e outros estudantes acham que há uma falta de estímulo pela leitura em todas as áreas da sociedade.

Para trazer um esclarecimento mais abrangente sobre o assunto, entrevistamos a psicóloga e professora Erenir de Sant´Anna da Universidade de São Paulo (USP).

Retrô – Qual a sua concepção sobre a importância da leitura?
Erenir
- Bom, em primeiro lugar, sempre foi importante ler. A leitura informa e forma nossa opinião a respeito de questões importantes para nossas decisões pessoais. Só podemos considerar que nossas decisões são as mais acertadas se tivermos todos os ângulos das circunstâncias analisadas. Sem análise as decisões saem por conta da probabilidade de errarmos muito.

Retrô - Como psicóloga, por que o jovem está cada vez menos interessado na leitura?
Erenir
- Não me considero especialista no assunto, entretanto sei que tenho mais controle sobre minhas ações quando estou mais perto da verdade e isso passa pelo meu preparo para um julgamento de algo que não conheço. Percebo que hoje em dia as pessoas não fazem muita questão de acertar nas decisões mesmo aquelas que as envolvem diretamente. E essa atitude revela a desinformação a que estão presas.

Retrô - Qual solução a senhora daria para reverter esse quadro?

Erenir
- Quando percebemos o ganho em alguma atitude recorremos a ela, não é? Talvez a grande descoberta seja exatamente a capacidade de desenvolvimento intelectual e prático que obtemos quando nos tornamos leitores assíduos, porque assim seremos absolutamente responsáveis pelo sucesso na nossa vida.

Retrô - Para a senhora a internet é a maior responsável por esse desinteresse?
Erenir
- Não, não. A internet é um veículo extraordinário, é a marca de nosso tempo tecnológico, não temos como subtrair sua importância. Porém é mal aproveitado para que se torne espaço de troca literária. O que temos é muito trabalho para transformar recursos da internet em aliados da leitura habitual.

Retrô - A maioria dos estudantes, que possuem o habito da leitura, ficam restritos em apenas ler livros obrigatórios pelas universidades. Você acha que isso é o suficiente para formar um bom profissional?
Erenir
- Não sei disso não. A maioria dos universitários não lê muito desde o ensino fundamental mesmo. O bom profissional não se forma na graduação acadêmica e sim durante todo o processo de aprendizagem desde as primeiras letras. E não pára. É um processo longo e empenhoso. A leitura pode ajudar a atravessar a ponte entre disciplinas díspares para isso, mas não é um fenômeno estacionado na academia.

Retrô - Quais estratégias são usadas pelas Universidades para incentivar o gosto pela leitura?
Erenir - Não conheço uma estratégia específica, mas penso que os movimentos culturais apostam muito na diversidade e naturalmente há espaço para um maior crescimento da leitura à medida que forem ficando mais numerosos os eventos e a divulgação deles entre os estudantes.

Retrô - Uma pesquisa do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) revelou que apenas 9% dos universitários lêem jornais. Você acha que esse meio precisa buscar novas alternativas que atraiam os jovens?
Erenir - Particularmente acho que a rua ganhou mais espaço tirando dos jornais o foco de informação exatamente pela censura sofrida pela imprensa nos anos 1970 e 1980. A campanha pela abertura política teve que procurar outros caminhos para chegar à população porque não podia mais contar com a imprensa. Parece que muito da decepção política do povo brasileiro tem a ver com a imparcialidade e a maturidade jornalística que deixa muito a desejar de uns tempos para cá. Como confiar nossas decisões a opiniões que não ombreiam com o senso comum?

Retrô - Na opinião da senhora, o que pode levar o jovem a desenvolver o gosto pela leitura?
Erenir - É uma construção de oportunidades desde a primeira infância sem interrupção em nenhum momento. Livros, livros e livros, disponibilidade de livros em salas, jardins, espaços públicos, escolas, bibliotecas comunitárias, grupos de leitura dramatizada, poesia em praça pública, concursos literários e muitos livros novamente. E claro a participação coesa, sem preguiça de todos os agentes da educação: estado, escola e família.


Raquel Tenuta e Thaís Carapiá





FALA POVO, vídeo enquete próprio do Blog RetrôVisor. O vídeo postado acima está com falta de algumas acentuações e erros de digitação nos GCs(Gerador de caracteres). Porém já foram corrigidos e está no primeiro link( Youtube) no começo dessa matéria: http://www.youtube.com/watch?v=hUvSDo_oT1c&feature=channel

domingo, 5 de abril de 2009

Opinião Pública

Entrevista



Pedro Pimenta, 42 anos, é o nosso entrevistado dessa semana. Bacharelado em jornalismo pela Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN), ele se especializou no setor de mídia e publicação, exercendo função de diretor e editor-chefe.
Ele tinha uma empresa, a Pimenta Comunicação, a qual foi fechada no final do ano passado e onde trabalhava com mídia impressa, revistas, web, boletins, assessoria de imprensa, além da produção de roteiros para programas de televisão e peças teatrais. Agora ele pretende voltar para o mercado de trabalho dando continuidade a sua profissão.
Entre as diversas atividades que desenvolveu, ele publicou o livro “Ele, vocês e eu - reflexões cristãs” pela Editora PHL e a Editora Ideal.


Retrô – Qual a sua visão sobre opinião pública?
Pimenta–
Eu vejo sobre dois aspectos, o primeiro como dona do seu próprio nariz, e o segundo como uma oportunidade de setores da nossa sociedade manipularem. De que forma?.. Se nós estamos num país democrático, onde a cultura é difundida, onde as pessoas têm acesso a informação, a opinião pública não é manipulada, pois a própria cultura da sociedade a produz como representativa. Uma sociedade que de fato age em pró da melhoria do todo. Então uma opinião pública vinda de uma sociedade com forte tendência cultural não é manipulada, e conseqüentemente consegue ditar normas em vez de ser manipulada. E nesse contexto ela é quem exige, passa a ter o papel de dona da situação. Mas tem um outro lado da moeda.
Esse outro lado é quando nós temos uma opinião pública que vem de uma sociedade que não tem uma cultura, não tem acesso à informação que conseqüentemente é manipulada pela mídia, e quando eu digo mídia não são os jornalistas, e sim os empresários. Jornalista não manipula a opinião pública, mas os donos dos meios de comunicação sim. O jornalista é apenas um elo entre a opinião pública e as mídias. Esse processo midiático, digamos assim.
Se eu pudesse aplicar essas duas situações para a sociedade brasileira, aplicaria a segunda, pois a nossa sociedade é manipulada por ‘n’ fatores, que se formos abrir esses fatores dariam duas horas de entrevista. Mas o que eu posso dizer é que se de um lado ela é manipulada, por outro existem fortes indícios de que ela esta tomando uma posição. Hoje já não se deixa enganar muito pela mídia em relação a determinados candidatos políticos. Já não é tão influenciada por novelas. A sociedade brasileira tem acordado para essa questão. Mas ainda falta muito.


Retrô - E como essa manipulação influencia na sociedade? Positivamente ou negativamente?
Pimenta- Olha... como eu vejo a manipulação em todas as esferas da sociedade. Primeiro na questão do consumo. Os publicitários dizem pra nós que se não tivermos roupa de marca, o carro do ano ou uma casa com três ou quatros dormitórios, não somos sociedade. Vende-se consumo, vendem-se bens materiais. Nós podemos aplicar essa regra também, não só pros jovens, mas para as mulheres, pros homens, idosos. Todos de uma forma ou de outra são manipulados pela mídia.
E os efeitos são nocivos. Eu não vejo de uma forma boa e tranqüila essa manipulação. Para mim é nociva. Agora, quais são os meios que todos devem ter ou possuir para não se deixar levar por tudo isso? Informação, cultura, mas quando eu digo cultura, não é a cultura de massa mas sim aquela que é filtrada e separada. O que é bom e o que é ruim pra mim. Então quando não se tem essa visão é levado pela mídia.


Retrô - Mesmo com toda essa manipulação, você concorda que o jornalista é formador de opinião?
Pimenta- Sim. Eu não tenho como discordar que o jornalista é formador de opinião. Mas eu também vejo isso como um mito. Porque todos nós somos formadores de opinião. Você pode estar inserido em vários outros níveis profissionais e ser formador de opinião.
Agora o que acontece no caso do jornalista, é que ele tem a caneta e o papel na mão, então ele se torna duplamente qualificado como formador de opinião. E como respondi anteriormente, deve-se filtrar tudo.
Eu pego como exemplo os jornalistas que trabalharam a favor do terceiro Reich, na Alemanha, que eram totalmente a favor de Hitler, escreviam artigos dizendo que ele era o cara. Então, o processo de opinião pública aí foi usado de uma forma muito ruim. Agora, tem o lado do jornalista consciente, que é aquele cara realmente interado no assunto que é isento de parcialidade, mesmo trabalhando em uma empresa de comunicação que é favorável a determinado assunto. Mas o poder do jornalista é muito grande, tem que ter bom censo e caráter.


Retrô - Casos que se tornaram sensacionalistas por causa da opinião pública, como o assassinato da menina Isabela, já atrapalharam o seu trabalho como jornalista, em relação à exposição da sua opinião sobre o caso?
Pimenta- Essa pergunta é mais direcionada para um jornalista que trabalha na editoria de cidades, que escreve de tudo. Eu trabalhei pouco nessa área, trabalhei mais com editorias de política e economia. E nesse caso a que você se referiu, da Isabela e tantos outros, eu vi e percebi colegas de profissão indo pro calor da discussão e levando muito mais a emoção do que a razão. Para o jornalista não cabe essa situação, porque se você o fizer, aí você é tendencioso.
Eu sempre tive uma postura, pelo pouco que eu trabalhei com editoria de cidades, mesmo que abalado ou não pelo caso que eu cobria, tentava fazer o texto o mais racional possível. Para não servir como bode expiatório, porque nós somos apontados pela opinião pública. E aí acontecem exageros como nesse caso da Isabela ou como no caso da Escola Base, onde a mídia acusou os donos da escola de pedófilos e acabou com a vida deles.


Retrô - Nessas editorias que você trabalhou, de política e economia, alguma matéria sua sofreu certa censura ou limite?
Pimenta- Sim. Em... eu não lembro o ano, tinha um processo eleitoral para escolher governadores, deputados e o presidente. E eu fiz uma reportagem com determinado candidato daqui de São Bernardo, e todas as informações que ele me deu estavam gravadas num gravador. E quando eu publiquei a matéria, transcrevi o que ele disse literalmente. Ele fez uma representação e inclusive mandou até uma convocação pela assembléia. E lógico, eu liguei para o sindicato, onde me deram toda a orientação de não ir. Ele me mandou uma notificação que eu seria enquadrado na lei tal, eu mandei todo o material para o sindicato, o próprio advogado leu o jornal e ouviu a entrevista, e o sindicato tomou a frente. O deputado teve que se retratar depois. Por isso que eu falo, a gente tem que ter esse cuidado, principalmente com políticos e famosos. Essa foi a única vez.


Retrô - E como você disse sobre a manipulação dos meios de comunicação, você acha que a Televisão é o principal meio disso?
Pimenta- A TV não é só a principal, como a pior delas. Há pouco tempo eu li uma estatística sobre o poder da comunicação no Brasil e mais de 60% que tem acesso a comunicação é através da TV. Eu fiquei pasmo porque até pouco tempo era o rádio, só que se popularizou tanto a TV e o preço dos televisores, que as pessoas que não tinham acesso a TV passaram a ter. Então a TV é a maior fonte de informação das famílias brasileiras.
E se você fizer uma pesquisa até mesmo entre os seus colegas, de dez, veja quantos assistem televisão, quantos ouvem rádio e quantos lêem jornal. Eu já falei nessa ordem porque a maioria assiste TV, um pouco menos ouvem rádio e uma minoria lê.
E eu vejo que hoje, a televisão presta muito mais o serviço de deseducação do que de educação. O que é uma pena, o quanto não poderia ser feito em relação ao crescimento das pessoas pela televisão? O papel da televisão tem deixado a desejar.


Retrô - Você já presenciou esse tipo de manipulação dentro das empresas de comunicação?
Pimenta
- Muito! Eu já tive que bater de frente com muitos editores. Inclusive há pouco tempo eu fui demitido de uma revista justamente por isso. Ele tinha uma visão totalmente diferente da editoria que havia sido implantada quando eu cheguei. E essa pessoa chegou depois. E para começar era uma pessoa que não tinha nenhum conhecimento jornalístico, muito menos de colocar conteúdo editorial numa revista. E nós nos desentendemos e a situação ficou insustentável. Ele queria uma revista completamente tendenciosa em favor da diretoria. E eu dizia que o papel da revista era outro.
Também em jornais que eu passei. Eu passei por um jornal que trabalha muito com a questão política, e a proprietária desse jornal tinha ligações com os políticos da região e eu me vi impedido de escrever muitas matérias que eram desfavoráveis ao político, mas não a pessoa do político, e sim o porquê dele deixar de fazer determinadas coisas. E aí eu não podia publicar, comecei a entrar em atrito novamente com a pessoa e deixei de trabalhar lá.


Retrô – Na última quarta - feira saiu uma matéria sobre o STF (Supremo Tribunal Federal) em relação à Lei da Imprensa, sobre a possibilidade de mudança quanto a necessidade do diploma para exercer a profissão jornalística. Qual a sua opinião sobre esse assunto?
Pimenta
- Então, eu vejo alguns pontos favoráveis nessa lei, mas vejo outros desfavoráveis. E eu não consigo imaginar, o supremo tribunal federal e as pessoas que tem insistido nessa ação, a não necessidade do diploma de jornalista. Isso é jogar fora o diploma de milhares de jornalistas. E também é uma forma de dar pras pessoas que não fizeram a faculdade, não estudaram quatro anos, fora a carga horária, trabalhos e estágios, a oportunidade de serem jornalistas. Eu não tenho nada contra. Tenho muitos amigos que não cursaram essa faculdade, mas dão de dez a zero em alguns que fizeram. Só que isso não dá o mérito nem descrédito pra um nem pra outro. Acho que precisa-se encontrar um meio termo para esses ‘clandestinos’ terem a possibilidade de fazer um curso, uma gestão.
Agora, tirar a obrigatoriedade do diploma para mim é retrocesso. Tem coisas nessa lei que são arbitrárias como a Lei da mordaça. Eu fico imaginando um presidente que tem um histórico de luta na ditadura, com repressão e agora ele não diz que é favorável, mas deixa tocar, não diz nem que sim, nem que não em questão da lei da mordaça. E isso pra mim é um retrocesso pior ainda! Se essa lei vier, eu penso que até viveria sob ela, só que teríamos que mudar de ‘República Democrática do Brasil’ para ‘Ditadura do Brasil’. E já existem muitas leis que proíbem os jornalistas de fazerem determinadas coisas. Nós não estamos soltos ao vento, temos normas, obrigações e regras. Há exageros? Sim. Mas há exageros em todas as camadas profissionais. Então o meu desejo é que essa lei não passe, para que isso não venha interferir na nossa liberdade de expressão. Isso é uma lei e está na constituinte. Já que pretendem investir na constituinte novamente, então mudem outras coisas também. A questão dos idosos, crianças e mulheres violentadas, transporte no Brasil, educação. Sair do papel e entrar na ação.


Aline Agnelli e Jariza Rugiano

Opinião Pública, em suma, reflexo do dominante

O posicionamento e a imposição da política e da economia brasileira fizeram surgir no começo do século XIX a opinião pública, esta como forma de confirmar seguimento político por meio de uma única linha de pensamento e comportamento, como é explicado no primeiro capítulo do livro “História da Imprensa no Brasil” de Ana Luiza Martins e Tânia Regina de Luca.
A mídia, em geral, tem e usa diversas formas para manipular as opiniões da sociedade. Não são todas as notícias que atendem ao interesse público e quando elas são difundidas criam valores distorcidos da realidade. Essa situação se dá principalmente quando meios de comunicação trabalham pelo sensacionalismo de fatos violentos, como tratar um criminoso dando-lhe glamour, ou quando exibem constantemente o cotidiano das celebridades como um modelo a ser seguido pela população.
A intenção de algumas informações, muitas vezes, é a necessidade de se manter na alta taxa de vendas, ou seja, sem a preocupação e compromisso com o cidadão. Este, porém, é o consumidor e aceita certos fatos sem ao menos argumentar a consequência deles.
Barrigadas” vêm ocorrendo de forma constante nos últimos meses, pois há imprudência em muitos veículos de informação. A televisão é uma delas e suas imagens ganham poder maior para apelar e dirige nossos dedos no controle remoto.
Fato é que o jornalista realmente sério deve posicionar a sociedade frente à verdade.
O problema existente quanto à deficiência na opinião pública do Brasil está presente desde a sua origem e não será fácil deixá - la em um molde totalmente questionador. Há necessidade de uma reforma na educação e cultura de muitos brasileiros para então terem a possibilidade de discutir e exigir qualidade e credibilidade do jornal, da televisão, do rádio, da internet e das instituições políticas do país.

Jariza Rugiano

Assista aos vídeos abaixo que se relacionam com o tema “Opinião Pública”.


Milton Jung discute sobre a ética e criatividade no jornalismo e o defende com o objetivo no cidadão.
http://www.youtube.com/watch?v=Agv6BhGfNXM&feature=related

O documentário "Manipulação de Massa" entrevistou 182 pessoas e recebeu sete prêmios. Entre eles, o de Melhor Documentário - São Carlos Videofestival 2006.
http://www.youtube.com/watch?v=aWQc0e9toys&feature=related

domingo, 29 de março de 2009

Retrôvisor

O Jornalismo e sua Evolução


A necessidade social aliada à invenção de Johann Gutenberg, a prensa, e ao momento histórico – fim da Idade Média, início do mercantilismo, fez com que a imprensa se difundisse. Esta que surgia no momento é a chamada imprensa de serviços, diretamente ligada ao comércio da época.
Além do comércio de mercadorias, desenvolveram-se também as universidades, que colaboraram ativamente com o aumento da procura por livros, os quais passam a ser vistos como produto de alto preço, fazendo necessária a imprensa para satisfazer à grande demanda a ser produzida.
Com o avanço do capitalismo, tendo a imprensa como reflexo e meio de divulgação e serviço, as pessoas passaram a se interessar pelas informações diárias, pelos acontecimentos da época, surgindo assim o periódico.
Porém, a partir do século XVI, os regimes políticos passam a censurar os conteúdos a serem publicados, servindo de instrumento dos regimes absolutistas, o que dificulta o nascimento do Jornalismo, que só tomará força com os ideais liberais iluministas, com a Revolução Francesa, com a independência norte-americana e com a Revolução Industrial.
O processo de fortalecimento da imprensa, apresentando uma maior liberdade de expressão, tornou-se possível com o apoio da burguesia, classe que se apresentava em ascensão e que detinha meios de financiá-la.
Atualmente, tem como seu principal meio colaborador a publicidade. Os jornais, segundo o portal de comunicação “Comunique-se”, faturam R$1,65 bilhões com anúncios publicitários, os quais obrigam que muitos artigos e notícias sejam reduzidos para lhes dar espaço.
O interesse das pessoas pelos periódicos vem diminuindo muito ao longo dos últimos anos, ao que muito se deve a falta de inovação dos jornais e mesmo dos noticiários televisivos. Como Ricardo Noblat questiona em seu livro, “A Arte de Fazer Um Jornal Diário”, será que os próprios jornalistas estão acabando com o jornal?
A internet contribuiu muito com isso. Com sua maior rapidez na difusão das notícias e com seu fácil manuseio aos que tem acesso, muitos passaram a usá-la como meio de informação diária e de enriquecimento intelectual, dispensando o jornal impresso.


Thaís Carapiá.

Quem somos.


Blog criado por estudantes do 1° semestre de jornalismo, da Universidade Metodista de São Paulo, com o intuito de discutir a profissão em sua teoria e prática.Apresentação de críticas, matérias, fotos e vídeos relacionados ao jornalismo, sua história e desenvolvimento até os dias atuais.
Grupo composto por:Aline Agnelli (18), Ana Marcelino (19), Andrea Dominguez (20), Deborah Scarone (19), Isabela Gregório (18), Jariza Rugiano (20), Nídia Bomtempo (18), Raquel Tenuta (20), Patrícia Alves (18) e Thaís Carapiá (19).