domingo, 7 de junho de 2009

Cultura sim, censura nunca mais


O Brasil vivenciou um período de Ditadura Militar entre 1964 e 1985. Essa época teve como característica principal a ausência de democracia, suspensão de direitos constitucionais, censura e perseguição política.

Quando houve o golpe militar, o país tinha os movimentos políticos mais organizados da sua história. Sindicados, movimentos estudantis, todos estavam engajados em entidades como a UNE (União Nacional dos Estudantes) e o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), que tinham grande representatividade na política da nação. Entretanto, com o regime militar, essas entidades foram asfixiadas. No dia 13 de dezembro de 1968, o presidente Costa e Silva, assina o Ato Institucional n°5, o AI-5. O que até então era uma ditadura mascarada, passa a ser uma ditadura escancarada. Daquela data até 1979, quando é assinada a anistia, o Brasil passa por um período nebuloso, e no âmbito cultural não foi diferente.

Ali a violência se impôs através da censura.
Reprimidos, os estudantes, os músicos e a esquerda em geral, passaram a utilizar a música como principal modo de se expressar. Nas letras havia um questionamento da situação pela qual o Brasil estava passando. Com a ousadia de falar o que não era permitido à nação, a Música Popular Brasileira começa a atingir as grandes massas. Para podar essa arte e acabar com a liberdade de expressão da sociedade, foi criada a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP). Sendo assim, com o objetivo de driblar a censura, os artistas utilizavam metáforas em suas músicas. Porém, mesmo com esse recurso, ainda corriam o risco de serem censurados, exilados e até torturados.

Geraldo Vandré foi um dos primeiros artistas perseguidos pela ditadura militar. Em setembro de 1968 o compositor participou do Terceiro Festival Internacional da canção, com a música “Pra não dizer que não falei de flores”, considerada hino de contestação de jovens brasileiros. A música foi proibida de ser veiculada, e Vandré foi exilado de 1969 a 1973.

Chico Buarque também foi um grande alvo do regime militar. Censurado inúmeras vezes, Chico deixava claro o seu descontentamento perante a situação que o Brasil se encontrava. Quando voltou do exílio compôs a música "Apesar de você". A canção foi aprovada e gravada. No entanto, após o sucesso, a música foi vetada por conter duplo sentido. O que aparentemente não passava do relato de uma briga de um casal, era na realidade uma referência ao presidente Médici, que estava no poder. "Cálice" foi outra canção do compositor com grande repercussão, sendo proibida de ser gravada ou se quer cantada.
A censura não era um artifício usado apenas para combater músicas de protesto. Ela podava tudo o que era possível, barrava qualquer obra que pudesse ameaçar a moral da sociedade conservadora, que era a favor do regime. Músicas bregas, popularescas, como o sucesso "Pare de Tomar a Pílula", ou que continham palavras que não agradavam o regime, também eram censuradas.

Outro movimento musical reprimido pela ditadura militar foi o Tropicalismo, também conhecido como Tropicália. Na realidade, o movimento tropicalista não teve como principal objetivo o combate à ditadura militar. Os tropicalistas acreditavam que a inovação musical em si, já era uma forma revolucionária. A participação deles na cultura foi mais crítica do que política. Exatamente por isso, os estudantes engajados e aqueles que defendiam músicas de protesto, não apoiaram o movimento. Utilizando guitarras elétricas em suas músicas, também eram criticados por músicos mais tradicionais e nacionalistas que alegavam que essa influência da cultura pop-rock americana prejudicaria a música brasileira. Em 1984, políticos de esquerda, artistas e milhões de brasileiros fizeram parte das Diretas Já!, movimento que era a favor das eleições diretas para presidente.

Fazendo parte da Aliança Democrática, o deputado Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral, em 1985, o novo Presidente da República. Acabara ai o regime militar. No entanto, Tancredo ficou doente e faleceu. Consequentemente quem assumiu o poder foi o vice-presidente José Sarney e em 1988 foi aprovada uma nova constituição, que estabeleceu princípios democráticos no país. Foi o fim de uma época obscura em que a liberdade de expressão e organização era praticamente inexistente.



Ana Carolina Marcelino

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