Entrevista
Pedro Pimenta, 42 anos, é o nosso entrevistado dessa semana. Bacharelado em jornalismo pela Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN), ele se especializou no setor de mídia e publicação, exercendo função de diretor e editor-chefe.
Ele tinha uma empresa, a Pimenta Comunicação, a qual foi fechada no final do ano passado e onde trabalhava com mídia impressa, revistas, web, boletins, assessoria de imprensa, além da produção de roteiros para programas de televisão e peças teatrais. Agora ele pretende voltar para o mercado de trabalho dando continuidade a sua profissão.
Entre as diversas atividades que desenvolveu, ele publicou o livro “Ele, vocês e eu - reflexões cristãs” pela Editora PHL e a Editora Ideal.
Retrô – Qual a sua visão sobre opinião pública?
Pimenta– Eu vejo sobre dois aspectos, o primeiro como dona do seu próprio nariz, e o segundo como uma oportunidade de setores da nossa sociedade manipularem. De que forma?.. Se nós estamos num país democrático, onde a cultura é difundida, onde as pessoas têm acesso a informação, a opinião pública não é manipulada, pois a própria cultura da sociedade a produz como representativa. Uma sociedade que de fato age em pró da melhoria do todo. Então uma opinião pública vinda de uma sociedade com forte tendência cultural não é manipulada, e conseqüentemente consegue ditar normas em vez de ser manipulada. E nesse contexto ela é quem exige, passa a ter o papel de dona da situação. Mas tem um outro lado da moeda.
Esse outro lado é quando nós temos uma opinião pública que vem de uma sociedade que não tem uma cultura, não tem acesso à informação que conseqüentemente é manipulada pela mídia, e quando eu digo mídia não são os jornalistas, e sim os empresários. Jornalista não manipula a opinião pública, mas os donos dos meios de comunicação sim. O jornalista é apenas um elo entre a opinião pública e as mídias. Esse processo midiático, digamos assim.
Se eu pudesse aplicar essas duas situações para a sociedade brasileira, aplicaria a segunda, pois a nossa sociedade é manipulada por ‘n’ fatores, que se formos abrir esses fatores dariam duas horas de entrevista. Mas o que eu posso dizer é que se de um lado ela é manipulada, por outro existem fortes indícios de que ela esta tomando uma posição. Hoje já não se deixa enganar muito pela mídia em relação a determinados candidatos políticos. Já não é tão influenciada por novelas. A sociedade brasileira tem acordado para essa questão. Mas ainda falta muito.
Retrô - E como essa manipulação influencia na sociedade? Positivamente ou negativamente?
Pimenta- Olha... como eu vejo a manipulação em todas as esferas da sociedade. Primeiro na questão do consumo. Os publicitários dizem pra nós que se não tivermos roupa de marca, o carro do ano ou uma casa com três ou quatros dormitórios, não somos sociedade. Vende-se consumo, vendem-se bens materiais. Nós podemos aplicar essa regra também, não só pros jovens, mas para as mulheres, pros homens, idosos. Todos de uma forma ou de outra são manipulados pela mídia.
E os efeitos são nocivos. Eu não vejo de uma forma boa e tranqüila essa manipulação. Para mim é nociva. Agora, quais são os meios que todos devem ter ou possuir para não se deixar levar por tudo isso? Informação, cultura, mas quando eu digo cultura, não é a cultura de massa mas sim aquela que é filtrada e separada. O que é bom e o que é ruim pra mim. Então quando não se tem essa visão é levado pela mídia.
Retrô - Mesmo com toda essa manipulação, você concorda que o jornalista é formador de opinião?
Pimenta- Sim. Eu não tenho como discordar que o jornalista é formador de opinião. Mas eu também vejo isso como um mito. Porque todos nós somos formadores de opinião. Você pode estar inserido em vários outros níveis profissionais e ser formador de opinião.
Agora o que acontece no caso do jornalista, é que ele tem a caneta e o papel na mão, então ele se torna duplamente qualificado como formador de opinião. E como respondi anteriormente, deve-se filtrar tudo.
Eu pego como exemplo os jornalistas que trabalharam a favor do terceiro Reich, na Alemanha, que eram totalmente a favor de Hitler, escreviam artigos dizendo que ele era o cara. Então, o processo de opinião pública aí foi usado de uma forma muito ruim. Agora, tem o lado do jornalista consciente, que é aquele cara realmente interado no assunto que é isento de parcialidade, mesmo trabalhando em uma empresa de comunicação que é favorável a determinado assunto. Mas o poder do jornalista é muito grande, tem que ter bom censo e caráter.
Retrô - Casos que se tornaram sensacionalistas por causa da opinião pública, como o assassinato da menina Isabela, já atrapalharam o seu trabalho como jornalista, em relação à exposição da sua opinião sobre o caso?
Pimenta- Essa pergunta é mais direcionada para um jornalista que trabalha na editoria de cidades, que escreve de tudo. Eu trabalhei pouco nessa área, trabalhei mais com editorias de política e economia. E nesse caso a que você se referiu, da Isabela e tantos outros, eu vi e percebi colegas de profissão indo pro calor da discussão e levando muito mais a emoção do que a razão. Para o jornalista não cabe essa situação, porque se você o fizer, aí você é tendencioso.
Eu sempre tive uma postura, pelo pouco que eu trabalhei com editoria de cidades, mesmo que abalado ou não pelo caso que eu cobria, tentava fazer o texto o mais racional possível. Para não servir como bode expiatório, porque nós somos apontados pela opinião pública. E aí acontecem exageros como nesse caso da Isabela ou como no caso da Escola Base, onde a mídia acusou os donos da escola de pedófilos e acabou com a vida deles.
Retrô - Nessas editorias que você trabalhou, de política e economia, alguma matéria sua sofreu certa censura ou limite?
Pimenta- Sim. Em... eu não lembro o ano, tinha um processo eleitoral para escolher governadores, deputados e o presidente. E eu fiz uma reportagem com determinado candidato daqui de São Bernardo, e todas as informações que ele me deu estavam gravadas num gravador. E quando eu publiquei a matéria, transcrevi o que ele disse literalmente. Ele fez uma representação e inclusive mandou até uma convocação pela assembléia. E lógico, eu liguei para o sindicato, onde me deram toda a orientação de não ir. Ele me mandou uma notificação que eu seria enquadrado na lei tal, eu mandei todo o material para o sindicato, o próprio advogado leu o jornal e ouviu a entrevista, e o sindicato tomou a frente. O deputado teve que se retratar depois. Por isso que eu falo, a gente tem que ter esse cuidado, principalmente com políticos e famosos. Essa foi a única vez.
Retrô - E como você disse sobre a manipulação dos meios de comunicação, você acha que a Televisão é o principal meio disso?
Pimenta- A TV não é só a principal, como a pior delas. Há pouco tempo eu li uma estatística sobre o poder da comunicação no Brasil e mais de 60% que tem acesso a comunicação é através da TV. Eu fiquei pasmo porque até pouco tempo era o rádio, só que se popularizou tanto a TV e o preço dos televisores, que as pessoas que não tinham acesso a TV passaram a ter. Então a TV é a maior fonte de informação das famílias brasileiras.
E se você fizer uma pesquisa até mesmo entre os seus colegas, de dez, veja quantos assistem televisão, quantos ouvem rádio e quantos lêem jornal. Eu já falei nessa ordem porque a maioria assiste TV, um pouco menos ouvem rádio e uma minoria lê.
E eu vejo que hoje, a televisão presta muito mais o serviço de deseducação do que de educação. O que é uma pena, o quanto não poderia ser feito em relação ao crescimento das pessoas pela televisão? O papel da televisão tem deixado a desejar.
Retrô - Você já presenciou esse tipo de manipulação dentro das empresas de comunicação?
Pimenta- Muito! Eu já tive que bater de frente com muitos editores. Inclusive há pouco tempo eu fui demitido de uma revista justamente por isso. Ele tinha uma visão totalmente diferente da editoria que havia sido implantada quando eu cheguei. E essa pessoa chegou depois. E para começar era uma pessoa que não tinha nenhum conhecimento jornalístico, muito menos de colocar conteúdo editorial numa revista. E nós nos desentendemos e a situação ficou insustentável. Ele queria uma revista completamente tendenciosa em favor da diretoria. E eu dizia que o papel da revista era outro.
Também em jornais que eu passei. Eu passei por um jornal que trabalha muito com a questão política, e a proprietária desse jornal tinha ligações com os políticos da região e eu me vi impedido de escrever muitas matérias que eram desfavoráveis ao político, mas não a pessoa do político, e sim o porquê dele deixar de fazer determinadas coisas. E aí eu não podia publicar, comecei a entrar em atrito novamente com a pessoa e deixei de trabalhar lá.
Retrô – Na última quarta - feira saiu uma matéria sobre o STF (Supremo Tribunal Federal) em relação à Lei da Imprensa, sobre a possibilidade de mudança quanto a necessidade do diploma para exercer a profissão jornalística. Qual a sua opinião sobre esse assunto?
Pimenta- Então, eu vejo alguns pontos favoráveis nessa lei, mas vejo outros desfavoráveis. E eu não consigo imaginar, o supremo tribunal federal e as pessoas que tem insistido nessa ação, a não necessidade do diploma de jornalista. Isso é jogar fora o diploma de milhares de jornalistas. E também é uma forma de dar pras pessoas que não fizeram a faculdade, não estudaram quatro anos, fora a carga horária, trabalhos e estágios, a oportunidade de serem jornalistas. Eu não tenho nada contra. Tenho muitos amigos que não cursaram essa faculdade, mas dão de dez a zero em alguns que fizeram. Só que isso não dá o mérito nem descrédito pra um nem pra outro. Acho que precisa-se encontrar um meio termo para esses ‘clandestinos’ terem a possibilidade de fazer um curso, uma gestão.
Agora, tirar a obrigatoriedade do diploma para mim é retrocesso. Tem coisas nessa lei que são arbitrárias como a Lei da mordaça. Eu fico imaginando um presidente que tem um histórico de luta na ditadura, com repressão e agora ele não diz que é favorável, mas deixa tocar, não diz nem que sim, nem que não em questão da lei da mordaça. E isso pra mim é um retrocesso pior ainda! Se essa lei vier, eu penso que até viveria sob ela, só que teríamos que mudar de ‘República Democrática do Brasil’ para ‘Ditadura do Brasil’. E já existem muitas leis que proíbem os jornalistas de fazerem determinadas coisas. Nós não estamos soltos ao vento, temos normas, obrigações e regras. Há exageros? Sim. Mas há exageros em todas as camadas profissionais. Então o meu desejo é que essa lei não passe, para que isso não venha interferir na nossa liberdade de expressão. Isso é uma lei e está na constituinte. Já que pretendem investir na constituinte novamente, então mudem outras coisas também. A questão dos idosos, crianças e mulheres violentadas, transporte no Brasil, educação. Sair do papel e entrar na ação.
Aline Agnelli e Jariza Rugiano
Opinião Pública, em suma, reflexo do dominante
O posicionamento e a imposição da política e da economia brasileira fizeram surgir no começo do século XIX a opinião pública, esta como forma de confirmar seguimento político por meio de uma única linha de pensamento e comportamento, como é explicado no primeiro capítulo do livro “História da Imprensa no Brasil” de Ana Luiza Martins e Tânia Regina de Luca.
A mídia, em geral, tem e usa diversas formas para manipular as opiniões da sociedade. Não são todas as notícias que atendem ao interesse público e quando elas são difundidas criam valores distorcidos da realidade. Essa situação se dá principalmente quando meios de comunicação trabalham pelo sensacionalismo de fatos violentos, como tratar um criminoso dando-lhe glamour, ou quando exibem constantemente o cotidiano das celebridades como um modelo a ser seguido pela população.
A intenção de algumas informações, muitas vezes, é a necessidade de se manter na alta taxa de vendas, ou seja, sem a preocupação e compromisso com o cidadão. Este, porém, é o consumidor e aceita certos fatos sem ao menos argumentar a consequência deles.
“Barrigadas” vêm ocorrendo de forma constante nos últimos meses, pois há imprudência em muitos veículos de informação. A televisão é uma delas e suas imagens ganham poder maior para apelar e dirige nossos dedos no controle remoto.
Fato é que o jornalista realmente sério deve posicionar a sociedade frente à verdade.
O problema existente quanto à deficiência na opinião pública do Brasil está presente desde a sua origem e não será fácil deixá - la em um molde totalmente questionador. Há necessidade de uma reforma na educação e cultura de muitos brasileiros para então terem a possibilidade de discutir e exigir qualidade e credibilidade do jornal, da televisão, do rádio, da internet e das instituições políticas do país.
Jariza Rugiano
Assista aos vídeos abaixo que se relacionam com o tema “Opinião Pública”.
Milton Jung discute sobre a ética e criatividade no jornalismo e o defende com o objetivo no cidadão.
http://www.youtube.com/watch?v=Agv6BhGfNXM&feature=related
O documentário "Manipulação de Massa" entrevistou 182 pessoas e recebeu sete prêmios. Entre eles, o de Melhor Documentário - São Carlos Videofestival 2006.
http://www.youtube.com/watch?v=aWQc0e9toys&feature=related
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOi pessoal,
ResponderExcluirAdorei esse tema!
É um dos meus preferidos porque foi o que mais me surpreendeu, eu nunca imaginei que opinião pública era a opinião tornada pública, e não a opinião de uma grande parte da população em defesa de algum interesse!!
A entrevista e o texto me ajudaram a esclarecer algumas dúvidas, vocês arrasaram!
Um beijo,
Giulia Gazetta
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOLÁ GALERA !
ResponderExcluirAssim como a Giulia, achei super interessante o tema de vocês pois assim como ela imaginava que a opinião pública era um conceito tornado público...muito esclarecedor!!!
Sobre o blog, parabéns, está muito bem organizado e eu adorei o layout.
Beijos,
Thamires Bonaparte
(Focas em Pauta)