domingo, 24 de maio de 2009

Portugal: da Literatura ao Jornalismo

A revolução liberal de 1820 em Portugal ressuscitou a publicação de discussões ideológicas e partidárias, por meio de artigos. Finalmente, Portugal conquistou sua primeira lei de imprensa, atrasada 42 anos em relação à França, o que colaborou com o desenvolvimento da imprensa periódica e no aumento da quantidade e qualidade dos jornais.

A liberdade de escrever e publicar estimulou o jornalismo de argumentação, como Almeida Garrett, que teve seu nome ligado a várias publicações. Por diversas vezes exilado, tanto na França como na Inglaterra, por ter sido militante da revolução liberal, tratava em seus textos de política e intervenção. Atuou nos jornais O Português (1826), O Chaveco Liberal (1827), O Precursor (1831), O Português Constitucional (1836).

Com a vitória liberal, Garrett torna-se um dos intelectuais do regime, ao lado de Alexandre Herculano. Político, poeta, jornalista, romancista, historiador e agricultor, Herculano foi diretor e redator da revista O Panorama, fundada em 1837. Tal periódico literário estava ao lado das melhores revistas da Europa, tanto no aspecto gráfico como literário, porque, com a aparência da análise literária, tratavam disfarçadamente as questões sociais e políticas.

António Feliciano de Castilho, assim como Herculano, fundou um periódico literário, Revista Universal Lisbonense, criada em 1841, sendo um dos diretores e principal redator do veículo. Antero de Quental, vítima das críticas de Castilho pelo conservadorismo, é “um símbolo da geração de 1870 e um marco na poesia, no ensaio filosófico e literário, no jornalismo e nas lutas pela liberdade de pensamento e pela justiça social”.

Seduzido pelo jornalismo, Quental aceitou o cargo para ser um dos diretores do República – Jornal da Democracia Portuguesa. “A paixão pelo jornalismo também o levou à publicação anônima de um panfleto” com o objetivo de arrecadar fundos para a “formação de um novo jornal, O Pensamento Social, o qual mais tarde dirigiu em parceria com Oliveira Martins”.

Quanto a Eça de Queirós, este merece um texto exclusivo. “Deixou páginas admiráveis de jornalismo ou sobre jornalismo dispersas por diversas e inúmeras publicações, cujo inventário é bastante longo”. Eça estréia sua atividade jornalística no dia 23 de março de 1866 na Gazeta de Portugal, passa pela direção e redação de um jornal bissemanário, O Distrito de Évora e também colabora com a Gazeta de Notícias, jornal do Rio de Janeiro, de janeiro de 1892 até novembro de 1897.

A contribuição de Eça aos jornais foi diversa: artigos, crônicas e também folhetins, partes de sua produção de ficção primeiro publicada em jornais, como acontece com O Crime do Padre Amaro (1875), com A Relíquia (1887) e com A Correspondência de Fradique Mendes (1888).

Thaís Carapiá

Referências:
Chaparro, Manuel Carlos, Sotaques d’aquém e d’além mar: percursos e géneros do jornalismo português e brasileiro (2000), Santarém : Jortejo, 2000, pp. 29-44.
http://escritas.paginas.sapo.pt/almeida_garrett.htm
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/RUL/RUL.pdf
http://ac2m.blogs.sapo.pt/tag/antero+de+quental
http://www.citi.pt/cultura/literatura/romance/eca_queiroz/jornalismo.html