domingo, 7 de junho de 2009

O espetáculo da notícia

Ao longo da história, a comunicação sofreu diversas mudanças. Entre elas, houve o surgimento do Jornalismo de revelação, que se preocupa principalmente com escândalos e em expor a vida privada de indivíduos.

Atualmente, os produtos da mídia se tornaram mercadorias. Na busca pela audiência, a ética e a moral acabam esquecidas. Sendo assim, vale sensacionalismo, notícias mal apuradas, fofocas, etc. É uma vulgarização e manipulação do que é noticiado, com o único objetivo de conquistar a maior quantidade de espectadores.

A notícia foi transformada em instrumento competitivo de emissoras e jornais. Essa concorrência acaba prejudicando a formação de uma opinião pública e sensata. Os jornalistas e os jornais estão, cada vez mais, trabalhando com a idéia de que “o que é bom é aquilo que o público gosta”.

Portanto, muitas vezes manipulam fatos para tornar a matéria mais atraente para uma população, que por sua vez está mais preocupada em apenas consumir e não em se informar. O povo gosta de sensacionalismo e de informações exageradas. No entanto, esse formato de informação, sem uma apuração adequada, possivelmente acaba implicando em um final trágico. Um exemplo desse tipo de situação, foi o caso dos diretores de uma escola em São Paulo, que foram acusados de molestar seus alunos. O casal sofreu as conseqüências e foi preso. No entanto, quando houve uma investigação correta, foi comprovado que as acusações eram falsas. Contudo, não importa o que se fizesse agora, os diretores já tinham danos permanentes em suas vidas.

No livro "A Tirania da Comunicação", Ignacio Ramonet comenta sobre o caso Princesa Diana e o caso Clinton-Lewinsky, “exemplos de supermidiatização que nem sempre significa boa informação”.

No caso Bill Clinton, a imprensa americana exagerou no volume, na banalidade e na grosseria com que tratou o assunto. Houve uma cobertura competitiva, com excesso de fofocas e um “jornalismo investigativo” sem fatos nem fontes.
Com relação à princesa Diana, o caso foi mais sério. Como conseqüência da negligência dos paparazzi, Lady Di e seu namorado, Dodi al-Fayed, morreram em um acidente de automóvel. Fotógrafos perseguiram Diana e seu affair, resultando na colisão do carro em que estavam. O mundo parou para assistir o funeral da “Princesa do Povo”.

Essa questão da imprensa manipular informações e tratar a notícia como um espetáculo é muito bem retratada no clássico do cinema americano, "A montanha dos sete abutres", que é uma lição de jornalismo e mostra como a mídia se comporta. O filme, dirigido por Billy Wilder, trata de um jornalista inescrupuloso que faz de tudo por uma notícia de grande repercussão, mesmo que falsa. Em uma de suas falas o protagonista comenta: “Eu posso cuidar de grandes notícias e pequenas notícias, e se não houver eu saio e mordo um cachorro”. Apesar de antigo, o filme mostra o que ocorre atualmente, jornalistas que não estão preocupados com a notícia, mas sim com a autopromoção.

Percebe-se, então, que a imprensa tem a necessidade da notícia de impacto, que venda, independente da verdade.

Ana Carolina Marcelino

Entrevista com Marcos Melo

Entrevistamos na última sexta-feira o professor Marcos Melo, 49 anos, formado em Ciências Sociais pela PUC São Paulo, com especialização em Globalização e Cultura. Durante a conversa, foram discutidos vários fatos sobre a ditadura e censura no período militar, enfatizando os movimentos a favor da democratização do país.

Um assunto muito pertinente aos jornalistas foi a posição da grande imprensa no período, a qual teve uma dupla-opinião. No começo apoiando o golpe que, de acordo com a capa do jornal O Estado de São Paulo: "Os democratas dominam a nação", mostrou um apoio à ditadura. Posteriormente, com o aumento da repressão, essa postura mudou, trazendo críticas ao governo da época. Como as margens amarelas no jornal A Folha de São Paulo durante as campanhas para as Diretas Já.

Questionamos como a esquerda tentava acabar com a ditadura e sua luta contra os abusos. "O partido comunista não se envolveu na luta armada, os que não concordavam formavam as guerrilhas", afirmou Marcos. O professor disse ainda que os esquerdistas mais brandos lutavam dentro da legalidade, se candidatando a cargos como vereador e deputado, e achavam que a luta armada dava mais motivos para continuar com a repressão.

O entrevistado relatou fatos que ocorreram dentro de sua própria família: "Tenho algumas pessoas na minha família que foram atuantes. Não chegaram a luta armada, mas foram obrigados a sair do Estado de origem, porque corriam o risco de serem presos." Ele comentou que desde cedo convivia com a tensão de ser preso e que sempre soube mais, do que seus colegas, sobre o que realmente acontecia.

Durante a ditadura houve também uma censura moral, ela não queria passar para a sociedade que estava só reprimindo, mas sim que veio para moralizar. Dessa forma atingiu bastante as famílias mais conservadoras, pois censurava várias músicas, hoje consideradas bregas. O episódio mais famoso foi a música "Pare de tomar a pílula" do Odair José, porque nesse período estava ocorrendo a campanha de controle de natalidade e por isso foi censurada.


Isabela Gregório e Deborah Scarone.

Cultura sim, censura nunca mais


O Brasil vivenciou um período de Ditadura Militar entre 1964 e 1985. Essa época teve como característica principal a ausência de democracia, suspensão de direitos constitucionais, censura e perseguição política.

Quando houve o golpe militar, o país tinha os movimentos políticos mais organizados da sua história. Sindicados, movimentos estudantis, todos estavam engajados em entidades como a UNE (União Nacional dos Estudantes) e o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), que tinham grande representatividade na política da nação. Entretanto, com o regime militar, essas entidades foram asfixiadas. No dia 13 de dezembro de 1968, o presidente Costa e Silva, assina o Ato Institucional n°5, o AI-5. O que até então era uma ditadura mascarada, passa a ser uma ditadura escancarada. Daquela data até 1979, quando é assinada a anistia, o Brasil passa por um período nebuloso, e no âmbito cultural não foi diferente.

Ali a violência se impôs através da censura.
Reprimidos, os estudantes, os músicos e a esquerda em geral, passaram a utilizar a música como principal modo de se expressar. Nas letras havia um questionamento da situação pela qual o Brasil estava passando. Com a ousadia de falar o que não era permitido à nação, a Música Popular Brasileira começa a atingir as grandes massas. Para podar essa arte e acabar com a liberdade de expressão da sociedade, foi criada a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP). Sendo assim, com o objetivo de driblar a censura, os artistas utilizavam metáforas em suas músicas. Porém, mesmo com esse recurso, ainda corriam o risco de serem censurados, exilados e até torturados.

Geraldo Vandré foi um dos primeiros artistas perseguidos pela ditadura militar. Em setembro de 1968 o compositor participou do Terceiro Festival Internacional da canção, com a música “Pra não dizer que não falei de flores”, considerada hino de contestação de jovens brasileiros. A música foi proibida de ser veiculada, e Vandré foi exilado de 1969 a 1973.

Chico Buarque também foi um grande alvo do regime militar. Censurado inúmeras vezes, Chico deixava claro o seu descontentamento perante a situação que o Brasil se encontrava. Quando voltou do exílio compôs a música "Apesar de você". A canção foi aprovada e gravada. No entanto, após o sucesso, a música foi vetada por conter duplo sentido. O que aparentemente não passava do relato de uma briga de um casal, era na realidade uma referência ao presidente Médici, que estava no poder. "Cálice" foi outra canção do compositor com grande repercussão, sendo proibida de ser gravada ou se quer cantada.
A censura não era um artifício usado apenas para combater músicas de protesto. Ela podava tudo o que era possível, barrava qualquer obra que pudesse ameaçar a moral da sociedade conservadora, que era a favor do regime. Músicas bregas, popularescas, como o sucesso "Pare de Tomar a Pílula", ou que continham palavras que não agradavam o regime, também eram censuradas.

Outro movimento musical reprimido pela ditadura militar foi o Tropicalismo, também conhecido como Tropicália. Na realidade, o movimento tropicalista não teve como principal objetivo o combate à ditadura militar. Os tropicalistas acreditavam que a inovação musical em si, já era uma forma revolucionária. A participação deles na cultura foi mais crítica do que política. Exatamente por isso, os estudantes engajados e aqueles que defendiam músicas de protesto, não apoiaram o movimento. Utilizando guitarras elétricas em suas músicas, também eram criticados por músicos mais tradicionais e nacionalistas que alegavam que essa influência da cultura pop-rock americana prejudicaria a música brasileira. Em 1984, políticos de esquerda, artistas e milhões de brasileiros fizeram parte das Diretas Já!, movimento que era a favor das eleições diretas para presidente.

Fazendo parte da Aliança Democrática, o deputado Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral, em 1985, o novo Presidente da República. Acabara ai o regime militar. No entanto, Tancredo ficou doente e faleceu. Consequentemente quem assumiu o poder foi o vice-presidente José Sarney e em 1988 foi aprovada uma nova constituição, que estabeleceu princípios democráticos no país. Foi o fim de uma época obscura em que a liberdade de expressão e organização era praticamente inexistente.



Ana Carolina Marcelino

O progresso dos Blogs

No mundo virtual existem vários sites e formas de se relacionar, um exemplo disso são os blogs. O desafio de postar diários pessoais na rede, entre o início e o final da década de 1990, fez parte do que a americana Chris Sherman, editora assistente do Search Engine Watch (http://www.searchenginewatch.com) chamou de “primeira onda da web escriturável'”. Segundo ela, este período esteve limitado pela oferta de ferramentas que facilitasse a postagem de diários on-line na rede.

Já a Segunda Era dos blogs veio com a criação de ferramentas especializadas, por empresas como a Pitas (www.pitas.com) que criou o primeiro software grátis e depois o americano Evan Williams, e a empresa Pyra Labs criou ferramenta semelhante, o Blogger (www.blogger.com). A principal diferença foi na velocidade da criação, postagem e atualização dos ciberdiários. Dessa forma qualquer pessoa que dominasse o inglês básico poderia entender a forma como os blogs funcionavam.

Apesar de a maioria dos blogs serem utilizados como diários, eles também possuem diferentes e múltiplas faces, onde misturam página pessoal, fórum, links, comentários e pensamentos pessoais, ensaios ou lugar onde se escreve de tudo ou sobre nada.

Segundo informações do Blogger, hoje os blogs já passam de 800 mil em todo o mundo. No Brasil eles ganharam mais força no ano de 2000. Com esse aumento no número de usuários, a ligação entre os blogueiros se tornou mais ampla, formando assim várias comunidades bloggers.

Entre os primeiros divulgadores está o analista de sistemas de Brasília, Marcus Amorim, que criou em março de 2000, o blog www.zamorim.eti.br quando, segundo ele, ainda não existiam ciberdiários em português. O weblog traz comentários sobre temas variados como política, curiosidades científicas, informática e entretenimento.

Os blogs são meios utilizados para mostrar a opinião das pessoas de uma forma mais pessoal, e possui uma capacidade de interligar as opiniões dos blogueiros. Não há mais a necessidade de ser um especialista na construção de páginas na internet. Hoje os processos são simples e rápidos podendo ser realizados de qualquer computador ligado à rede da internet.

Assim, um veículo que inicialmente era composto por textos e fotos de temas livres, atualmente ele serve como meio divulgador de trabalhos dos internautas, como blogs satíricos, de fotógrafos, escritores, críticos e até mesmo jornalísticos, que possibilita o profissional ter mais liberdade em se expressar e fazer parte do mercado alternativo.

Nídia Bomtempo e Patrícia Alves



Experiências da turma com os blogs: vantagens e limitações


domingo, 24 de maio de 2009

Portugal: da Literatura ao Jornalismo

A revolução liberal de 1820 em Portugal ressuscitou a publicação de discussões ideológicas e partidárias, por meio de artigos. Finalmente, Portugal conquistou sua primeira lei de imprensa, atrasada 42 anos em relação à França, o que colaborou com o desenvolvimento da imprensa periódica e no aumento da quantidade e qualidade dos jornais.

A liberdade de escrever e publicar estimulou o jornalismo de argumentação, como Almeida Garrett, que teve seu nome ligado a várias publicações. Por diversas vezes exilado, tanto na França como na Inglaterra, por ter sido militante da revolução liberal, tratava em seus textos de política e intervenção. Atuou nos jornais O Português (1826), O Chaveco Liberal (1827), O Precursor (1831), O Português Constitucional (1836).

Com a vitória liberal, Garrett torna-se um dos intelectuais do regime, ao lado de Alexandre Herculano. Político, poeta, jornalista, romancista, historiador e agricultor, Herculano foi diretor e redator da revista O Panorama, fundada em 1837. Tal periódico literário estava ao lado das melhores revistas da Europa, tanto no aspecto gráfico como literário, porque, com a aparência da análise literária, tratavam disfarçadamente as questões sociais e políticas.

António Feliciano de Castilho, assim como Herculano, fundou um periódico literário, Revista Universal Lisbonense, criada em 1841, sendo um dos diretores e principal redator do veículo. Antero de Quental, vítima das críticas de Castilho pelo conservadorismo, é “um símbolo da geração de 1870 e um marco na poesia, no ensaio filosófico e literário, no jornalismo e nas lutas pela liberdade de pensamento e pela justiça social”.

Seduzido pelo jornalismo, Quental aceitou o cargo para ser um dos diretores do República – Jornal da Democracia Portuguesa. “A paixão pelo jornalismo também o levou à publicação anônima de um panfleto” com o objetivo de arrecadar fundos para a “formação de um novo jornal, O Pensamento Social, o qual mais tarde dirigiu em parceria com Oliveira Martins”.

Quanto a Eça de Queirós, este merece um texto exclusivo. “Deixou páginas admiráveis de jornalismo ou sobre jornalismo dispersas por diversas e inúmeras publicações, cujo inventário é bastante longo”. Eça estréia sua atividade jornalística no dia 23 de março de 1866 na Gazeta de Portugal, passa pela direção e redação de um jornal bissemanário, O Distrito de Évora e também colabora com a Gazeta de Notícias, jornal do Rio de Janeiro, de janeiro de 1892 até novembro de 1897.

A contribuição de Eça aos jornais foi diversa: artigos, crônicas e também folhetins, partes de sua produção de ficção primeiro publicada em jornais, como acontece com O Crime do Padre Amaro (1875), com A Relíquia (1887) e com A Correspondência de Fradique Mendes (1888).

Thaís Carapiá

Referências:
Chaparro, Manuel Carlos, Sotaques d’aquém e d’além mar: percursos e géneros do jornalismo português e brasileiro (2000), Santarém : Jortejo, 2000, pp. 29-44.
http://escritas.paginas.sapo.pt/almeida_garrett.htm
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/RUL/RUL.pdf
http://ac2m.blogs.sapo.pt/tag/antero+de+quental
http://www.citi.pt/cultura/literatura/romance/eca_queiroz/jornalismo.html

terça-feira, 28 de abril de 2009

E o diploma?

Meu pai foi quem me levou a pensar mais nesse assunto, muito antes de decidir que estudar jornalismo era o que eu realmente queria. Ele passava horas me dizendo que qualquer um podia ser jornalista. Bastava saber escrever que o resto estava feito!
Tenho que admitir que essa opinião me enlouquecia, cheguei a cogitar uma carreira de advogada como a melhor saída. Mas analisei o que eu queria mesmo, e tudo que eu via era um bloquinho de papel, canetas e uma Canon profissional. Acabei pulando para o mundo da imprensa e aqui estou no primeiro semestre dessa jornada.
O ponto é que logo de início corri atrás de informações que me dissessem o quanto o diploma era necessário, tanto para sentir que havia tomado a decisão certa, quanto para mostrar ao meu pai que a minha escolha não era tão desprezível. Acabei me deparando com a chance de entrevistar o Fred e vários pontos começaram a surgir na minha mente.
Analisei que ser jornalista é para poucos. Não basta saber fazer uma redação, é necessário ter um compromisso com a sociedade, vontade de transmitir o interesse público com a pura verdade, ter fôlego para rotina desgastante, agüentar os maus salários e amar aquilo que faz. Então com certeza, não é qualquer um que pode fazer o que eu escolhi para o resto da vida!
O prefácio do Noblat tem uma citação do Gabriel García Márquez que diz: “Pois o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e torná-lo humano por sua confrontação descarnada com a realidade. Ninguém que não a tenha sofrido pode imaginar essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida. Ninguém que não a tenha vivido pode conceber, sequer, o que é essa palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo das primícias, a demolição moral do fracasso. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderá persistir num ofício tão incompreensível e voraz, cuja obra se acaba depois de cada notícia como se fora para sempre, mas que não permite um instante de paz enquanto não recomeça com mais ardor do que nunca no minuto seguinte.”
Acredito que o jornalismo passa então a ser uma das carreiras mais complicadas, porque temos uma tarefa crucial, que é o compromisso com o todo. Temos em mãos um poder que pode informar com dignidade ou difamar com vergonha. É preciso caráter, dedicação e veracidade. É preciso FORMAÇÃO, o que agora é evidente para mim.

Isabela Gregório

domingo, 26 de abril de 2009

Entrevista com Fred Ghedini

Fred Ghedini, jornalista há pouco mais de 30 anos e formado pela ECA-USP, foi presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo por duas gestões, de 2000 a 2006. Hoje é tesoureiro da Apijor, e editor do Portal do Autor, comunidade de jornalistas conscientes de seus direitos autorais.

Retrô: Gostaríamos que esclarecesse sobre a possível extinção da Lei de Imprensa. Sabemos que a Lei em vigor nos dias de hoje foi instaurada no ano de 1967, tendo 20 dos 77 artigos derrubados em 2001. É natural que, como estudantes de jornalismo e futuros praticantes da profissão, tenhamos receios do que pode ser alterado.

Fred:
Quais os receios de vocês?

Retrô: O direito de resposta pode talvez tirar o jornalista a sua função de informar a sociedade. Dar a pessoas não formadas o direito da escrita em veículos de informação pode acarretar em uma perda da essência do jornalista.

Fred: É importante frisar que o direito de resposta está na Constituição Brasileira, no artigo 5º, da Liberdade de Garantia Individuais e Fundamentais. Sendo esse um direito para a parte ofendida, nada tem a ver com a regulamentação da profissão, que fixa a exigência da formação específica em jornalismo. São leis distintas, ambas da época da Ditadura, mas com sentidos opostos.
Digo isso porque a Lei de Imprensa tem artigos que nitidamente censuravam a imprensa e o trabalho jornalístico, principalmente naquilo que os militares entendiam como sendo a ameaça à Segurança Nacional. Então, como era um regime ditatorial militar, os jornais podiam ser submetidos à censura – como foram –, e costumavam, no lugar de matérias censuradas, publicar receitas de bolo, poemas de Camões, para indicar que aquele artigo havia sido censurado. Os jornais chamados alternativos chegavam a ser integralmente vetados.
Havia uma censura naquela época baseada na Lei 5.250, a Lei de Imprensa, e os artigos eram relacionados à chamada Segurança Nacional. Portanto, tudo aquilo que dizia respeito ao Governo, podia ser interpretado como atentado a Segurança Nacional; esse é o aspecto essencialmente ditatorial e sem sódio da Lei de Imprensa.
No entanto, ela tem artigos que defendem a parte ofendida naquilo que diz respeito ao direito de resposta. No código civil, o direito de resposta não está configurado como tramitação rápida e imediata, como a lei específica da Lei de Imprensa. Essa é uma das questões que faz com que os jornalistas brasileiros defendam uma Lei de Imprensa específica porque o direito de resposta tem que ter um trâmite rápido. Se uma parte ofendida em um artigo, com acusação de algo não verdadeiro, não pode esperar o decorrer normal da justiça, que pode levar meses ou anos, para que a resposta seja publicada; a ofensa a essa altura já seria consolidada na mente das pessoas que tiveram contato com a informação.
Por essa razão, acredito que o direito de resposta deva possuir-se de tramitação acelerada, para que em poucos dias depois, ou no dia seguinte, a parte ofendida possa justificar-se e a informação não verdadeira não seja fixada, valendo como verdadeira. Esse é, essencialmente, o problema do direito de resposta, e por isso achamos que tem que haver regulamentação para isso, ou a sentença cabe a cada juiz e o direito de resposta não existirá.

Retrô: E o que tem a nos dizer sobre aqueles que exercem a profissão, sem formação de jornalista?

Fred:
Temos atualmente mais de 13.000 registros precários de jornalistas, da época em que valeu a decisão da juíza Carla Rister, onde decretou que a formação do jornalista não era mais necessária. Esse processo resultou, então, em um julgamento que começou no Supremo Tribunal Federal no dia 1º de abril desse ano, e a continuação aconteceu dia 22 abril.
Em 2001, essa decisão permitiu que os interessados pudessem ir a Delegacias Regionais do Trabalho e tirar um registro precário e provisório.

Retrô: E você era presidente do Sindicato nessa época?

Fred:
Sim. Inclusive foi o Sindicato, juntamente à Fenaj, que entrou com recursos contra essa decisão. Essa luta continua. No site das duas instituições podem ser observadas manifestações e também existe campanha nacional em defesa da exigência da formação específica.

Retrô: Você acredita que esses jornalistas de formação precária podem trazer irregularidades aos veículos, já que não tem orientação nem formação da profissão?

Fred: Eventualmente. Podem escrever inverdades e aí entra a importância do direito de resposta. O direito de resposta não fere o trabalho jornalístico, muito pelo contrario. Se observarmos o projeto da nova Lei de Imprensa, é estabelecido claramente a obrigatoriedade do jornalista de cobrir o contraditório, nas suas várias manifestações. Isso tem a ver com a liberdade de expressão de toda a população e qualquer cidadão porque se não se cobre o contraditório, a parte prejudicada tem sua liberdade de expressão podada. Na verdade a exigência de um jornalismo bem feito e da aplicação do código de ética ou até de uma Lei de Imprensa específica razoável e bem feita, vai delimitar claramente aquilo que é obrigação do jornalista: cobrir o contraditório e todas as posições sobre determinados assuntos de interesse público possam se manifestar, e dessa forma se garante a liberdade de expressão. De outra forma, a liberdade de expressão também se manifesta nas páginas de opinião, nas cartas e nas matérias em que pessoas são entrevistadas. É uma impossibilidade física acreditarmos no absurdo de que todos teriam seu espaço para escrever nos jornais.
Necessariamente tem que haver uma organização da manifestação dos assuntos públicos de importância, como acontece nos meios de comunicação. É preciso que haja um espaço onde os assuntos públicos se organizem. O dia em que todos tiverem seu meio de comunicação, não há comunicação pública organizada - todos estarão cobrindo a todos simultaneamente, consultando todos os blogs brasileiros, como os assuntos públicos são tratados em algum espaço, pode ser considerado uma "praça pública midiática", digamos assim.

Retrô: A Revista Imprensa publicou recentemente uma reportagem com o título “Blogueiro não é jornalista”

Fred: Evidentemente, o blogueiro que escreve sobre receitas de bolo não é jornalista. Para ser jornalismo, o assunto tem que ser de interesse público, ter atualidade e informação checada. Sem essas características, claramente os milhões de blogueiros da atualidade não são jornalistas. A manifestação do pensamento e a liberdade de expressão diferem dessas características. Essa confusão interessa particularmente a algumas empresas proprietárias de veículos, porque com isso desorganizam a produção do conteúdo jornalístico e tornam mais permeável a manifestação dos interesses da empresa dentro desse material. O blogueiro tem seu direito de expressar, enquanto o jornalista tem a obrigação de informar com veracidade.

Retrô: Existem milhares de jornalistas praticantes que não tem o diploma. Afinal, qual a importância da formação em jornalismo?

Fred: Acho a formação fundamental para que saibam e conheçam o que é de fato o jornalismo. O jornalismo, no meu entender, existe para satisfazer o direito do cidadão à informação. Para exercer esse papel importante, é necessária uma preparação. Digo para vocês que este não é um aprendizado simples, como por exemplo a prática de checar informações. Essa prática não está em todos os blogueiros. Precisa-se aplicar algumas rotinas de checagem antes de publicar; a tendência da Internet é de justamente seguir o caminho contrário. Mas, para que o jornalismo torne-se crível, as pessoas que têm acesso e usufruem daquele material têm que ter a certeza de que aquilo foi cuidadosamente checado, verificado e devidamente concluído. O Twitter, que veio com força nos últimos tempos, trazendo a prática do mini-blogging, não tem credibilidade como outros veículos. O Twitter não é uma mídia jornalística, é uma mídia para qualquer pessoa. Mídias jornalísticas são aqueles espaços em que você pode confiar na informação, e podemos observar que as novas mídias e novas variações estão ressaltando a necessidade de ter informação com credibilidade. E cada vez mais, isso vai tornar-se importante.
Pode ocorrer de o jornalismo ser vítima dessa infidelidade aos fatos e às opiniões, se não souber, no momento em que vivemos de quebra de paradigmas, como firmar sua marca de credibilidade. No momento, a necessidade da informação torna-se muito mais evidente, e cabe aos jornalistas divulgarem isso e mostrarem as suas necessidades e a que vieram. Acredito que o jornalismo, se mantiver seus princípios básicos, conseguirá sobreviver e se mostrar necessário como espaço público, onde pelo menos uma parcela considerável das pessoas possa acreditar.
Há uma democratização dos acessos a informação e do direito a expressão – a Internet manifesta isso -, há também a necessidade de reorganização dos espaços onde se concentra a grande massa de informação.

Retrô: Você acredita que o jornalismo pode perder importância, com essa grande massa de informação e, com a Internet, uma grande massa de veículos disposta a armazená-los?

Fred: Acredito que o jornalismo será cada vez mais necessário. Como há uma multiplicação na quantidade de informação, basta saber se haverão profissionais e veículos suficientemente capazes e orientados para analisar e publicar cada noticia. No Brasil, diferente dos EUA, os veículos impressos ainda têm resistência.

Retrô: Atualmente temos a necessidade da rapidez da informação. Com essa exigência, você não acha que possa haver jornalistas que não checarão a informação?

Fred: Essa é uma tensão permanente. Não pode deixar de checar a informação. Esse é o divisor de águas. Os veículos jornalísticos têm que checar informação. É perigoso fazer afirmações sem que saibamos investigar todos os lados da história. O jornalismo de hoje é muito baseado em fontes oficiais, sem que haja checagem do restante dos fatos e fontes.

Retrô: E qual sua posição sobre a relação entre jornalismo e publicidade?

Fred: Esse é um ponto que ninguém discute. É difícil discutir o financiamento do jornalismo. Mas digo que estou cada vez mais convencido de que o jornalismo deve ser financiado por dinheiro público. Podem me chamar de louco, mas acredito que só assim o jornalismo terá caráter de serviço público, consolidando-se dessa maneira. A Suécia há poucos anos teve investimento do Governo a alguns veículos, para que estes não fossem fechados; o atual presidente da França, Sarkozy, reforçou o caixa das empresas jornalísticas.
Os jornais são de fato financiados pelo público, mas a finalização é privada. Sendo o jornalismo financiado pela publicidade, então a liberdade de imprensa torna-se liberdade de empresa, com limites ainda mais estreitos.

Retrô: Qual a sua posição com relação à nova Lei de Imprensa?

Fred: Nós somos a favor de uma nova Lei de Imprensa, pois o Código Civil e o Código Penal simplesmente não regulam esse direito. Somos a favor de uma formação específica, da exigência dessa formação para exercício da profissão. Somos a favor da Lei de Imprensa que garanta a autonomia de trabalho para o jornalista.


(Andrea Dominguez e Isabela Gregório)